sexta-feira, 20 de março de 2009

Revoluções


Às vezes dói-me o sentimento...
(Aquele que brota e cresce e dá frutos)
Mas passamos o tempo a atenuar-lhe o que dele se poderia notar
Enraizando-o no fundo da alma onde vegeta agressivamente.

E porque não me dói o corpo?
AS cicatrizes e os excessos não o prejudicam
Fazem dele tela pintada, triste ao amanhecer!
Pisada e esquecida por gente nenhuma.

Se pudesse sonhar para além do inalcançável
Talvez visitasse a plena harmonia um dia
No terreno que faz de mim humano
Aos olhos dos que não sentem o que escrevo.

Nisto, escravizo os meus sentidos
Deixando-os perdurar numa prazenteira aventura
Perdendo por fim a necessidade que mais sinto:
A necessidade de ser ouvido.

Agora rendido
Choro à incapacidade dos acontecimentos
A procura no passado é escassa e sem proveitos
E o negro e escuro futuro é o meu novo embalo fraterno.

Há quem sonhe com um mundo melhor
Repleto dos tais desejos inatingíveis e de complexos sistemas de felicidade
Porém, a sua alegria não surge e arranca sempre dos demais refúgios
A rendição necessária à passividade dos homens.

Não há nada melhor que nos confundirmos com a paisagem
Serena, na volúpia das brisas das noites em claro.
Viajando a milhões de quilómetros por segundo!
Enquanto parados, ouvimos um ruído estranho que nos enternece.

E não perde tempo a tornar-se no melhor momento da tua vida!

quarta-feira, 11 de março de 2009

Poeta do nada














Folha em branco
Cheia de pensamento,
Tela sem tempo
Palavras sem (en)canto

Encantamento
Escrito pelo vento

A folha,
A razão do momento,
Que se apaga.

Descoberta
Em cada um de nós
A voz,
Da folha do poeta, de mim mesmo,
Que de sonhos se rasga.

terça-feira, 10 de março de 2009

Cidade Invisível














Foi um momento
O em que pousaste
Sobre o meu braço,
Num movimento
Mais de cansaço
Que pensamento,
A tua mão
E a retiraste.
Senti ou não?

Não sei. Mas lembro-me
E sinto ainda
Qualquer memória
Fixa e corpórea
Onde pousaste
A mão que teve
Qualquer sentido
Incompreendido,
Mas tão de leve!...

Tudo isto é nada,
Mas numa estrada
Como é a vida
Há uma coisa
Incompreendida...

Sei eu se quando
A tua mão
Senti pousando
Sobre o meu braço,
E um pouco, um pouco,
No coração,
Não houve um ritmo
Novo no espaço?

Como se tu,
Sem o querer,
Em mim tocasses
Para dizer
Qualquer mistério,
Súbito e etéreo,
Que nem soubesses
Que tinha de ser.

Assim a brisa
Nos ramos diz
Sem o saber
Uma imprecisa
Coisa feliz.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Criação


Sem objectivos complexos
E livre de leis de outros
Percorro a linha do momentâneo castigo
E a solidão arrasta-me consigo.

Há um lugar, dizem,
Onde o sonho é mote
E os prazeres: versos.
Que encantado seria povoá-lo, conquistá-lo!

Em todas as faces vejo uma alma prisioneira,
Que faz de minha carne a inspiração urbana
E a contemplam de desdém em vez de afectos...
Morada dum repúdio cruel e ambíguo.

Se ao menos a sua raiz pudesse perfurar a Terra
E a ela fosse fiel o seu envolvimento,
Talvez o juizo dos demais fosse silenciado
Pela grandeza das suas estepes e dos bens recolhidos.

Sabias que não consigo dizer sequer que amo aquele?
Não por ser ele... E se o amar não é para sempre...
Há um lugar em mim que é egoista
E me torna de sua parte, longe de tudo o que crio e sou possuidor...
Tal pequeno eremita.