quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Habitual desordem do Eu


Quase corredores a céu aberto,
Percorro os inebriantes caminhos
Com restos de vómito, lixo, sangue e droga
E não há um único som a acompanhar o meu passo.

Sigo pelo escuro...
Passos aproximam-se e o vulto chega perto! Toca-me...
O mundo de repente tornou-se tão pequeno,
Tão reconfortante...

O mais pequeno mal solta-se de mim
E todo o imaginário alguma vez colhido
Paira à volta com esperança de poder voltar
Que deste estado não me libertarei tão cedo...

E quando já nem penso nem acho
E a vida me tem como sua
Volta o tempo e o espaço a apoderar-se de mim
Como se objecto deles me tratasse...

A fulgurar a minha revolta
Dou por mim a existir
Quando me sentiria melhor a ser sem ter de escolher ser
Mas não quero ser...

E se do nada sou eu feito... Ao nada quero pertencer!

domingo, 18 de outubro de 2009

Momento introspectivo de um clone


Muito tentamos descobrir o que no espelho há de tão especial... Será que é culpa de um mundo que nada tem para nos dar? Ou é nossa alma tão vã que nem um espelho sabe estilhaçar? Pode ser um vasto padrão em forma de cornucópia queimada pelo sabor que regurgitamos a fundo num impacto desmesurado e, cada vez mais inútil... Saberei eu o que um tempo esconde para além dos minutos que me prometeste consumir? Se nessa balança pudesse eu colocar o teu tudo e o meu nada, qual pesaria menos e que diferença faria isso no teu nada? Se te inquietasse o suficiente talvez uma pequena acendalha falhasse na minha pele e do frio que a chama consome, pudesse permutar uma dor, e que vasta dor, dentro do meu ser que nada tem de especial se nunca olhado a um espelho miserável, que só sabe descortinar uma imagem de fora para dentro... E aí talvez te soubesse fixar nos olhos a tentar imaginar a que sabem as pequenas volúpias por onde os meus sonhos viajam e por onde, para sempre, andarás tu perdida...

Alma sedenta


Transe... Voraz transe!
Quero nunca fechar os olhos
Movimentos sempre constantes
Pelo som maquínico anestesiante!
Quero ter de não pensar
De não agir
De não falar
E nada disso temer!
Ser a máquina do meu ser
Pois estas que vemos a passar
Na nossa alma não hão-de tardar...

Troco o batimento do que mais é em mim
Pelo vosso pulsar constante
Invadam-me com a estática e blindada harmonia
Essa que anseio sentir pois sou apenas um fruto da ruidosa apatia!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Sonografia


Cenas desincrustadas do fim da vida
Emergem como bolhas no som que partilham,
Ao correr a água veloz, sem esforço,
Torna insignificante todo o tempo que passou...

E nos jactos de prazer, em filas de transeuntes admirados
Juntaram-se para espreitar, de ouvidos atentos,
A bela sonografia gravada, nos dias de visão ofuscada,
Nas horas em que a vida surgiu do som

que ainda

ninguém



ouvia!


Shiuuu






Shiuuuu










Shiuuuuu


O silêncio já foi frio...
E abundante da energia dos velhos seres não vivos,
Esses sobreviventes da catástrofe sem virtude, sem um Deus que os preze...
Agora que ouço tudo só quero relembrar o que meus ouvidos nunca puderam captar:
O som do princípio do Tudo!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Protegenes



No principio a epiforação fora lançada,
a simples volatilidade emancipou-se ao renascer
e aqui estás tu, transformando-me.
Espécies ultrapassam-me geneticamente
sem que o meu ser te desvende,
como uma aniquilação protectora.
É aí que se desenvolve a sapiência desconfortante
onde os medos, revelando tal rectidão
apaziguam-se com o balançar das horas.
E o pensar atormentador elucida-me,
manifesta-me imposições brilhantes
difamadas pelo amanhecer da noite...
manipulando tal protecção genética.

sábado, 3 de outubro de 2009

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Viragem


Talvez fosse apenas uma estratégia
De querer pertencer à vida humana:
Amar e ser amado?
Que admiração é essa no pecado?

Muitas histórias passam,
Todas num capitulo inseguro!
Imenso! e absurdo!
Onde ninguém quer permanecer...

E donde vem, para onde irá?
Só quero fugir daqui
Pois eu sou o imediato
Num canto escondido a não querer permanecer.

E tu ficas por ai,
Coberto do musgo da vida
A consumir espaço do teu tempo
A brincar na realidade e nunca com ela...