domingo, 20 de junho de 2010

o Projecto

(...) E quanto mais danço mais me apercebo que já não sou eu a gostar, que já não existem quaisquer vinculos emocionais, que a mente já nada de palpável tem neste lugar. O meu corpo reclama mas tão mais depressa é assolado por um reconforto não sei vindo de onde. Sinto-me cansado mas não quero que acabe! Desejo ficar sempre a ouvi-lo! Sempre!

(...)

E no ar começam a apagar-se as vozes, o sentimento torna-se de devoção: aqui começou a escravidão.

(...)

Já no final, o ser tinha sido estudado, só faltava agora prepará-lo.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Miragem em sucalcos


Quando a memória se atenua
E pisa os lugares consumidos a medo
De onde chega o passeio talhado
Pelos cegos pés que nunca souberam parar a tempo...

Nesse vinculo ficou preso
A sua esperança depositada e desenfreada
Como se não tivesse mais onde se agarrar
A única solução é o embalo do passado...

E se nunca chega o tempo outra vez
Onde tudo precisa de recomeçar
Não há mais memórias a reter
Neste tenebroso presente

Os dias escondem-se de mim
As horas prolongam-se até ao fim
O fim que nunca vem
O fim que é o mais de mim!

domingo, 27 de dezembro de 2009

Poema Abstracto




Sexo fácil
Comida enlatada
Camisolas já velhas
Maluquice avançada

Unhas em sangue
Areia nos pés
Energias em baixo
Pobre à porta da Sé

Livros gastos
Companheiros perdidos
Saudades da infância
Objectos parecidos

Homem só
Poema sem rima
Tédio de horas vividas
Desprezo e auto estima

Psiquiatria
Enforcados, paixões
Altas velocidades
Gabarolas de acções

Metropolitano
Água benta da fé
Harmonia de rede
Crenças na chaminé

Horas vagas
Perdidas e vazias
Apagadas as luzes,
A solidão dos dias

Frieza artística
Som de pranto calado
Energias contadas
E o dinheiro acabado

Ilusão acesa
Mentes de esferovite
Obscuras mentiras
Querem que eu acredite

Pau de raiz
Pura psicologia
Angústias recalcadas
Tédio e monotonia

Estabilidade
De um só cativeiro
Fpessoa, “KALA”
Eu e o mundo inteiro

Nem eu nem sonhos
Nem ilusões
Aperto a mente e penso: Híper abstracções(...)

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Habitual desordem do Eu


Quase corredores a céu aberto,
Percorro os inebriantes caminhos
Com restos de vómito, lixo, sangue e droga
E não há um único som a acompanhar o meu passo.

Sigo pelo escuro...
Passos aproximam-se e o vulto chega perto! Toca-me...
O mundo de repente tornou-se tão pequeno,
Tão reconfortante...

O mais pequeno mal solta-se de mim
E todo o imaginário alguma vez colhido
Paira à volta com esperança de poder voltar
Que deste estado não me libertarei tão cedo...

E quando já nem penso nem acho
E a vida me tem como sua
Volta o tempo e o espaço a apoderar-se de mim
Como se objecto deles me tratasse...

A fulgurar a minha revolta
Dou por mim a existir
Quando me sentiria melhor a ser sem ter de escolher ser
Mas não quero ser...

E se do nada sou eu feito... Ao nada quero pertencer!

domingo, 18 de outubro de 2009

Momento introspectivo de um clone


Muito tentamos descobrir o que no espelho há de tão especial... Será que é culpa de um mundo que nada tem para nos dar? Ou é nossa alma tão vã que nem um espelho sabe estilhaçar? Pode ser um vasto padrão em forma de cornucópia queimada pelo sabor que regurgitamos a fundo num impacto desmesurado e, cada vez mais inútil... Saberei eu o que um tempo esconde para além dos minutos que me prometeste consumir? Se nessa balança pudesse eu colocar o teu tudo e o meu nada, qual pesaria menos e que diferença faria isso no teu nada? Se te inquietasse o suficiente talvez uma pequena acendalha falhasse na minha pele e do frio que a chama consome, pudesse permutar uma dor, e que vasta dor, dentro do meu ser que nada tem de especial se nunca olhado a um espelho miserável, que só sabe descortinar uma imagem de fora para dentro... E aí talvez te soubesse fixar nos olhos a tentar imaginar a que sabem as pequenas volúpias por onde os meus sonhos viajam e por onde, para sempre, andarás tu perdida...

Alma sedenta


Transe... Voraz transe!
Quero nunca fechar os olhos
Movimentos sempre constantes
Pelo som maquínico anestesiante!
Quero ter de não pensar
De não agir
De não falar
E nada disso temer!
Ser a máquina do meu ser
Pois estas que vemos a passar
Na nossa alma não hão-de tardar...

Troco o batimento do que mais é em mim
Pelo vosso pulsar constante
Invadam-me com a estática e blindada harmonia
Essa que anseio sentir pois sou apenas um fruto da ruidosa apatia!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Sonografia


Cenas desincrustadas do fim da vida
Emergem como bolhas no som que partilham,
Ao correr a água veloz, sem esforço,
Torna insignificante todo o tempo que passou...

E nos jactos de prazer, em filas de transeuntes admirados
Juntaram-se para espreitar, de ouvidos atentos,
A bela sonografia gravada, nos dias de visão ofuscada,
Nas horas em que a vida surgiu do som

que ainda

ninguém



ouvia!


Shiuuu






Shiuuuu










Shiuuuuu


O silêncio já foi frio...
E abundante da energia dos velhos seres não vivos,
Esses sobreviventes da catástrofe sem virtude, sem um Deus que os preze...
Agora que ouço tudo só quero relembrar o que meus ouvidos nunca puderam captar:
O som do princípio do Tudo!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Protegenes



No principio a epiforação fora lançada,
a simples volatilidade emancipou-se ao renascer
e aqui estás tu, transformando-me.
Espécies ultrapassam-me geneticamente
sem que o meu ser te desvende,
como uma aniquilação protectora.
É aí que se desenvolve a sapiência desconfortante
onde os medos, revelando tal rectidão
apaziguam-se com o balançar das horas.
E o pensar atormentador elucida-me,
manifesta-me imposições brilhantes
difamadas pelo amanhecer da noite...
manipulando tal protecção genética.

sábado, 3 de outubro de 2009

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Viragem


Talvez fosse apenas uma estratégia
De querer pertencer à vida humana:
Amar e ser amado?
Que admiração é essa no pecado?

Muitas histórias passam,
Todas num capitulo inseguro!
Imenso! e absurdo!
Onde ninguém quer permanecer...

E donde vem, para onde irá?
Só quero fugir daqui
Pois eu sou o imediato
Num canto escondido a não querer permanecer.

E tu ficas por ai,
Coberto do musgo da vida
A consumir espaço do teu tempo
A brincar na realidade e nunca com ela...

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Volta sem regressar


Numa caravana qualquer
Talvez de fronte ameaçadora
Ou apaziguada pela brisa
Uma e outra vez no belo desconhecido...

Que tal vingarmo-nos da rede sistemática?
Que nos agarra a nós: mosquinhas
A gritar por socorro, a implorar ser comidas
Celebrando a ataraxia dos mundos futuros?

Mesmo que não tenhamos nada a fazer
Não nos amedrontemos pelo culminar da nossa ida
Desde o pequeno ser que eramos
Até ao insignificante ser em que nos tornamos!

E já que te apercebeste
Quero a tua volta neste instante
Por cortinas de ludibriantes estados
Até que um simples toque resulte no teu abraço...

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Confortavelmente perdido


Amar-te seria reduzir-te:
O amor é tão insignificante entre nós
Um esboço patético do que pode a emoção
Criar em tão porético espaço ou tempo
Dum nunca eterno beijo...

Até quando vais durar?
Nesta expectativa volátil,
Que de tanto te desejar
Me consome o receio de viver mais um dia?

A ânsia vertiginosa de ser quase tocado,
Pelo teu sopro a penetrar na minha boca
Que me faz arremessar o que sinto
E o universo torna-se em ti

E é aí que te respiro
Que te saboreio
Que te faço latejar de vida
Como se da morte te recompusesses...

E quando desperto o toque atinge-me
Como se balas a ferver me dilacerassem
Quando abro os olhos, tu desapareceste,
E o sonho ainda agora começou...

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Fade out


Acontece uma vez (e tu acordas),
A próxima tem de ser inesperada ou não sairá vingadora
Porque devemos demais à vida que temos
Esse pincel desmaiado por onde escorrem desejos nunca concretizados.

E talvez em todo o meu corpo já não seja a mesma coisa.
Há no espelho alguém diferente a observar-me
Contem-te!
Não respires!




Mostra só mais uma vez que não és uma imagem real de mim!

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Nostalgia



A nostalgia chega despercebida
E toma-nos conta do momento,
Negando-lhe a liberdade
De um só dia poder revelar-se diferente.

Nunca estamos no derradeiro ponto
Nem os acima anseamos alcançar
A comodidade algema-nos à discrepancia
De nem um novo momento querer saborear.

E se a pudesse evitar?
A vida seria a eterna novidade
Tão longe do que fomos descobrindo
Tão longe do que poderiamos alcançar
Bem que o meu mundo ficava protegido
Do ontem, do hoje e do amanhã.

E no que toca à saudade,
Poderia ela desperdiçar menos de nós?

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Paradigma do culminar dos tempos


Dissolver tinta na imaginação
Como uma borboleta: desenhar furacões
Em suas asas magnificamente esculpidas
Transformando o seu vôo na entropia mais apetecida.

O quão belas são as envolventes brisas
De celestais carroseis de fogo
A matar tão raras mentiras
Que se soltam da luz que o sol desenha.

Dos criadores de ensejos e de harmonias perdidas
Desde a tregédia à eterna complacência,
São demasiado desprovidas de vida
Pois foi tão fácil destruir as suas origens.

Qual a maldade do fundamento?
E a virtude da sistemática revolução?
Se o que é de bem sempre permanecerá,
Porque não volta o antigo para nos renovar?



Agora o mundo vomita os restos dos sentimentos
Que outrora se orgulhou de possuir
Já lhe chegou viver pendurado em culturas de sobressalto
A mentira reina! e para ela nunca haverá ruína...

Intenção


A partir de quando a quanta perversidade aparecerá por si só como afecto?

sexta-feira, 20 de março de 2009

Revoluções


Às vezes dói-me o sentimento...
(Aquele que brota e cresce e dá frutos)
Mas passamos o tempo a atenuar-lhe o que dele se poderia notar
Enraizando-o no fundo da alma onde vegeta agressivamente.

E porque não me dói o corpo?
AS cicatrizes e os excessos não o prejudicam
Fazem dele tela pintada, triste ao amanhecer!
Pisada e esquecida por gente nenhuma.

Se pudesse sonhar para além do inalcançável
Talvez visitasse a plena harmonia um dia
No terreno que faz de mim humano
Aos olhos dos que não sentem o que escrevo.

Nisto, escravizo os meus sentidos
Deixando-os perdurar numa prazenteira aventura
Perdendo por fim a necessidade que mais sinto:
A necessidade de ser ouvido.

Agora rendido
Choro à incapacidade dos acontecimentos
A procura no passado é escassa e sem proveitos
E o negro e escuro futuro é o meu novo embalo fraterno.

Há quem sonhe com um mundo melhor
Repleto dos tais desejos inatingíveis e de complexos sistemas de felicidade
Porém, a sua alegria não surge e arranca sempre dos demais refúgios
A rendição necessária à passividade dos homens.

Não há nada melhor que nos confundirmos com a paisagem
Serena, na volúpia das brisas das noites em claro.
Viajando a milhões de quilómetros por segundo!
Enquanto parados, ouvimos um ruído estranho que nos enternece.

E não perde tempo a tornar-se no melhor momento da tua vida!

quarta-feira, 11 de março de 2009

Poeta do nada














Folha em branco
Cheia de pensamento,
Tela sem tempo
Palavras sem (en)canto

Encantamento
Escrito pelo vento

A folha,
A razão do momento,
Que se apaga.

Descoberta
Em cada um de nós
A voz,
Da folha do poeta, de mim mesmo,
Que de sonhos se rasga.

terça-feira, 10 de março de 2009

Cidade Invisível














Foi um momento
O em que pousaste
Sobre o meu braço,
Num movimento
Mais de cansaço
Que pensamento,
A tua mão
E a retiraste.
Senti ou não?

Não sei. Mas lembro-me
E sinto ainda
Qualquer memória
Fixa e corpórea
Onde pousaste
A mão que teve
Qualquer sentido
Incompreendido,
Mas tão de leve!...

Tudo isto é nada,
Mas numa estrada
Como é a vida
Há uma coisa
Incompreendida...

Sei eu se quando
A tua mão
Senti pousando
Sobre o meu braço,
E um pouco, um pouco,
No coração,
Não houve um ritmo
Novo no espaço?

Como se tu,
Sem o querer,
Em mim tocasses
Para dizer
Qualquer mistério,
Súbito e etéreo,
Que nem soubesses
Que tinha de ser.

Assim a brisa
Nos ramos diz
Sem o saber
Uma imprecisa
Coisa feliz.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Criação


Sem objectivos complexos
E livre de leis de outros
Percorro a linha do momentâneo castigo
E a solidão arrasta-me consigo.

Há um lugar, dizem,
Onde o sonho é mote
E os prazeres: versos.
Que encantado seria povoá-lo, conquistá-lo!

Em todas as faces vejo uma alma prisioneira,
Que faz de minha carne a inspiração urbana
E a contemplam de desdém em vez de afectos...
Morada dum repúdio cruel e ambíguo.

Se ao menos a sua raiz pudesse perfurar a Terra
E a ela fosse fiel o seu envolvimento,
Talvez o juizo dos demais fosse silenciado
Pela grandeza das suas estepes e dos bens recolhidos.

Sabias que não consigo dizer sequer que amo aquele?
Não por ser ele... E se o amar não é para sempre...
Há um lugar em mim que é egoista
E me torna de sua parte, longe de tudo o que crio e sou possuidor...
Tal pequeno eremita.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Careless feedback



Principiam-se movimentos sorrateiros
Do que há de mais intenso..
E em tudo o que nele se produz
Mata a tão desenquadrada expectativa.

Pois, tudo agora é diferente,
Não há afirmações que te valham
Sabias que esperavas por algo
E comparado a isto seria nada...

Um nada tão voraz capaz de te fazer ansear
Apenas e somente por ele...
Ele comanda-te e tu adoras
É tão melhor agora, que ele te tem para si!

E no final, estás a imaginar-te para sempre parado
Quieto, pois alimento dele serás
Até que o teu mundo ultrapassa-se
E ele abandona-te a seu pesar.

Pois a partir daí já ninguém pode protagonizar
Uma vida que não foste capaz de aguentar
Existencia nunca foi o teu lugar
E não é um tão maravilhoso final?

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Ambições do impessoal


Encaixotam a música,
Feita de materiais cintilantes,
Em caleidoscópios mudos,
Feitos de imagens gritantes.

Ofuscam o seu olfacto
Dentro de frascos ingrenados
Exibindo em mil anseios
O cristal, que no limite os transparece

Ondas sonoras? Blindados pulsares?
Alimentam-se do impalpável que evapora
Dos mares que segregam as intimas voltagens
Dos miticos fumos brancos apessoados.

Sabe bem o ser de vez em quando...
Alto
Frágil
E dar ao que nunca aconteceu a tal chance...

Ser o que nada é, o que tudo quer ser,
Inventar uma cor, um som, um aroma,
Nada foi desvendado ainda
Na ténue e imensurável excitação vazia...

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Death car


De angústias ainda não ultrapassadas
A estrada que, por ainda não percorrida ter sido,
Faz do caminho um nada próspero destino
Teima em engolir saraivadas de tempo.

Tudo num sinal quase divino,
Se presenteia num medo sufocante
Medo de já não ser isso, de não ser nada,
De estar sozinho...

Há qualquer coisa atrás da mente
Qualquer coisa te escapa...
Tu sentes que te consomes e que o fim virá rápido,
Não consegues escapar...

O medo é cada vez mais presente
Agonizante a tua respiração...
Só desejas morrer enquanto é tempo
De ainda seres tu, aí, contigo...

E quando te fores...
Sê bem-vindo,
Pois afinal no Carrocel da Morte
É que estamos vivos!

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Reboot



Não sei do que quero escrever
Nem do que estou a escrever neste momento
Faço apenas parte de um veículo
Tão extenso e frágil..

Apetece-me mergulhar de cabeça
Na terra volátil...
Sucumbir nela como caveiras secas no deserto
Ser leve como um grão de areia.

Agradeço depois se o triunfo vier
Na metamorfose, essa sim, que nunca mais chega ao fim...
Pois há dias em que não nasço sequer
Perduro ali rendido... Coleccionando emoções, pensamentos. (Embriagado)

E ninguém me força, ninguém me agarra na mão,
Houve alguém que me renasceu pela alma
Livrou-a do peso que todos carregam
Fixou-me em mim como uma paisagem na tela.

De que vale construir casas abandonadas,
Se elas não suportam o frio dos castiçais apagados?

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Acorda-me


Da inexperiência à loucura
Por caminhos verdes se prolonga a estirpe
Há quem diga que os sonhos se revestem de nuvens
E a alma se mascara de demónio.

Quando os anjos perfuram os sonhos
E as grinaldas das histórias se empoleiram
Na mágica sucessão de cores vibrantes,
O ocaso vem de novo celebrar os caminhos cegos.

O medo espraia-se nos caminhantes luminosos do céu
Que salpicam o espaço de corpos assombrosos
Começa o estrelato a mover-se nas galáxias
Tão redundante quanto a espuma das marés envolventes.

Nisto chega o tempo, e tudo recomeça da forma mais suja
Tudo se faz num castigo, numa lei.
Até as metamorfoses são menos raras...
E o leito dos rios é mais pobre que duas pétalas queimadas.

Chamam de vida o que nos mata todos os dias
E eu só a sei celebrar quando me despeito
A corromper qualquer desses castigos,
Onde o menos óbvio prevalece ao sorriso de um novo amanhecer.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O mal


Um dia és feliz, corres para a novidade,
Foges da seca adega de tumultos
Que tantas vezes foi palco
Das tuas miseráveis encenações lamuriantes.

És intocável,
Porque já nada se espeta
Nesse teu coração apagado
De tanto lhe terem provocado.

Pesa-te o corpo, o vómito vem sem ser convidado
E a culpa indistinguível
Torna-se na tua ânsia
Em tornar todo o sentimento invisível.

E tudo se faz num piscar de olhos
Quando já to tentaram reconstruir
E de tanto medo de to apagarem de novo
Levas a tua avante, seco e desvario, nulo de tão céptico.

Só adorava poder voltar a sentir que nunca exististe.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Solidão



É preciso o maior dos testemunhos
De todos esses textos moribundos
Tão obcecadamente pincelados de negro
E dos esguichos provocados pelos que pensam escrever por gosto.

Não se sabe onde tudo começou
Mas é o único inimigo da vida
Esse atendedor da morte
Que perfaz tão bonita palavra e tão forte ditongo.

Falo dos que em tempo e lugar não se entendem
E dos que a morte é por si já a maior das virtudes
Estes gestos que permitem o desabrochar de inócuas inocências
Deixam a imaginação descer do céu como uma semente de Deus.

E agora esse pequeno botão floresce
E torna-se na mais tímida concepção da eterna paisagem
O sopro dos sóis esmiúçam o seu talento
A quem declaram guerra!

E eu, o meu casulo, enrolado nas pálpebras dos anjos
Segrego aos demónios a minha veneração,
Ajoelham-se perante tal audácia e recolhem as lágrimas dos meus protectores sagrados,
Que nunca virão nada senão a luz do eterno incandescente.

O mundo todo conspira na alegria, na folia e nos afectos
Mas só eu me sei amar
Só eu contemplo a minha alegria estendida pelos cantos do universo
E quem lhe chama solidão não sabe o que é a vida!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Velvet night flight


Emergiam do mundo, dessa carcaça...
Ratos? Musaranhos? Que estranha raça!
Derrubam o chão onde a gente passa
E embora eu não saiba mais o que faça
Corre o ciclo da inquietante desgraça.

Chamar-lhes-ia toupeiras gigantes
Isto se não fossem do tamanho de térmitas pedantes
Gostaria de fazer um poema em sua honra
Se não fosse a construção da nova Gomorra
Que não me deixa concentrar e criar...

Roubam a hostilidade dos meus versos
Trocam-na por capitais, cenas de excesso!
E eu fico agarrado ao meu nome encravado,
A rezar por um mundo que não seja cavado.
E me dê um bruto prazer nesta vindoura ameaça.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O sinesteta


Todos os dias nos confrontam sensações diferentes.
Nem que declarando guerra aos sentidos,
É possível reaver os sabores do ontem
Nem os dissabores do amanhã nos ocorrerão.

O que faz a procura no presente mais intensa,
Sedutora e realista. Plena de vida.
As irrecusáveis tentações esboçam-se em fumos
Que elevam os frutos à sua posição original.

As luzes sobem dos tectos ao céu
E a entropia querida dos arredores
Esgota-se nas cidades insaciáveis
Não só por meras sensações, por desilusões.

São doces os fumos deste sitio
Carnudos os tons do lugar e sangrentas as texturas!
Tudo ao som octodecadente.

Preferia estar a ouvir a agonia de qualquer alguém a nascer.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Neutrão


De tudo o que Deus criou e possui existe algo que lhe dilacera a própria existência: o neutro.

A razão seria apenas a de se combater a si próprio visto tudo tender para uma entropia generalizada que culmina em colapsos ditos eles, feitos de Deus. Ora se um Deus é capaz de gerar um Big Bang porque não é ele capaz de o dissolver e de o devolver ao seu estado mais pleno? Deus só sabe agitar o universo porque quando tudo assenta já nada faz parte da sua obra. A consequencia não é culpa do criador, porque a criação tem vontade própria e tem identidade e acaba sempre por derrotar o seu criador por mais forte que este seja. Sendo assim Deus beneficia de certas cláusulas existencias importantes: a primeira, a paridade da heterogenia que presenciamos em tudo o que sentimos, positivo e negativo. A segunda é ela mesma descendente da primeira mas não propriamente consequente: o neutro.

O positivo e negativo foram criados, e durante algum tempo, tudo fluiu, cresceu e não permaneceu inerte. Tal como qualquer criador, Deus agita a consciencia mas não a dilui, sendo que a primeira vaga de criação estava completa assim que se estabeleceram as relações extremistas entre positivo e negativo. Daí advem todos os outros opostos conhecidos até hoje nunca esquecidos no tempo.

Deus contava ainda com a anulação da criação, sendo que poderia essa ser ou não adviente da sua obra, daí ter resultado o neutro. Poderia Deus saber que a sua obra só estaria completa assim que desenhada e construida a sua anti-obra? Não. Apesar da omnisciencia existe também a ideia da imortalidade e em quem mais depositar o maior atributo que alguma vez teve senão na sua própria criação? O neutro foi posto de lado e Deus continuou a estabelecer a primeira cláusula como principal, ignorando a algum custo os lados que se querem unir e destruir a sua criação.

Sendo que o neutro ficaria de lado, não tardou a que os próprios opostos se aproximassem e se unissem num modo que o Omnisciente nunca pensara.

A destruição de Deus deu-se cedo. A criação revoltou-se contra o que este tinha ignorado e o positivo e o negativo tendem sempre para o neutro passando um novo Deus mais poderoso a existir.

Deus é a causa primeira de todas a coisas, no entanto, a sua destruição é consequencia e resultado da sua própria criação.